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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Não disperdice os bons momentos da vida!

Aliocha já estava para sair, mas, de repente, aproximou-se de Natacha, pegou-a pelas mãos e sentou-se ao seu lado, olhando para ela com uma ternura indizível.
- Natacha, minha amiga, meu anjo, não se zangue comigo e não vamos brigar nunca mais. Dê-me sua palavra de que sempre em tudo vai acreditar em mim e eu em você. Agora, meu anjo, vou lhe contar o seguinte: um dia, nós estávamos brigados, não me lembro por que; eu fui culpado. Não falávamos um com o outro. Eu não queria pedir perdão primeiro, mas sentia-me terrivelmente triste. Vagava pela cidade, sem destino, ia à casa dos amigos e tinha no meu coração um peso tão grande, tão grande... Veio-me então à mente: o que aconteceria, por exemplo, se você adoecesse e morresse? Quando imaginei isso, tamanho desespero tomou conta de mim, como se eu realmente tivesse perdido você para sempre. Surgiam pensamentos, um mais penoso que o outro. E aí, cheguei a imaginar que fui ao seu túmulo, cai em cima dele quase sem sentidos, abracei-o e fiquei imóvel com a angústia. Imaginei como ia beijar esse túmulo, chamá-la de lá, nem que fosse por um minuto, implorar a Deus um milagre, para que você ressuscitasse por um instante e aparecesse na minha frente; eu me vi correndo para abraça-lá, apertá-la contra mim e beijá-la; pareceu-me que naquela hora eu ia morrer de felicidade por poder abraçá-la como antes, pelo menos por um minuto. E quando eu estava imaginando tudo isso, pensei, de repente: vou pedir a Deus que me deixe ver você por um instante, no entanto você está comigo há seis meses e nesses seis meses nós brigamos tantas vezes ficamos sem falar um com o outro! Dias inteiros passamos brigados, menosprezando nossa felicidade, e agora, eu aqui chamando você do túmulo por um minuto, disposto a dar por ele toda a minha vida!... Quando me dei conta disso, não aguentei mais, corri depressa até você, vim aqui e você já estava me esperando, nós nos abraçamos, depois daquela briga, e lembro-me de que a apertei contra mim com tanta força, como se realmente a estivesse perdendo, Natacha! Não vamos brigar nunca mais! Isso pra mim é tão penoso! Meus Deus, será possível pensar que eu deixe você?
Natacha chorava. Os dois se abraçaram fortemente e Aliocha jurou mais uma vez que nunca a abandonaria.


Trecho do livro 'Humilhados e Ofendidos' - Fiodor M. Dostoiévsk

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