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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

William J. Afogar-se Na Garoá do Deserto

 Já devia saber que amanhecer com os olhos vermelhos era sinal de que teria um dia cheio de dor de cabeça. Ignorou os sinais, pingou um pouco de água boricada nos olhos, o que fez com que a irritação diminuísse quase nada. Se arrumou para o colégio, tomou a primeira refeição do dia as pressas e partiu.
 Com o passar das horas, a dor de cabeça começou, chegando junto à uma tensão muscular destrutiva, os olhos avermelharam novamente e agora a garganta parecia secar.
 Foi dominado por uma vontade de falar mais alto, de se libertar e expressar tudo o que sentia. Então o fez! Depois calou. Em silêncio, parecia ouvir o mundo girar junto com o vento. Chegou em casa, desfez a face sem expressão e pôs no rosto, um belo sorriso, porém falso, como muitas coisa belas deste mundo.
 Não almoçou e passadas duas horas foi a caminho do serviço. O seu sorriso falso foi desmanchando como maquilagem sob chuva, porém agora, seu rosto trazia uma expressão pálida, cansada e sem graça. Era verdade que se cansara, não por trabalhar de mais ou estudar de mais, cansou-se da rotina de viver todos os dias, de acordar e de dormir, de pagar contas e pegar ônibus lotados, da falta de novidades e das novidades que só vinham o aborrecer.
 Já era hora de a vida ganhar sentido, algo que ultimamente, nem as conquistas, nem as viagens traziam. Cansou-se também de esperar pelo destino, foi atrás dos sonhos e descobriu que sonhos, simplesmente não passavam disso. E eram assim seus dias, calmos, planejados e vazios.


"O tempo nem sempre vem para o aprendizado e crescimento pessoal, pode também tornar-se arma  de morte lenta e dolorida. Se mal usado!"


Poeta Diluído - Por Dustin Maia - William J. Afogar-se Na Garoá do Deserto. SE COPIAR NÃO SE ESQUEÇA DOS CRÉDITOS.

5 comentários:

Vivian disse...

...gosto tanto de ler você!!!

ainda bem que o tempo me
permite este prazer!


bjbjbj

Fabricia Moreira disse...

Apesar do tom pessimista , é uma realidade que muitos enfrentam. Me lembra o tédio byroniano. A narração sensorial muito boa, é como se pudesse assistir as cenas, como uma sombra :)
Muito bom ;*

piedadevieira disse...

Sua crônica me fez lembrar de um personagem de Manuel Bandeira. Incrível o estilo!Essa é a arte do autor, pode criar à vontade suas histórias que a gente acredita e entra nela como observador.
Beijinhos

Mª João C.Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mª João C.Martins disse...

Quem sabe se um dia, ele deixar que o seu rosto seja um espelho verdadeiro, ele consiga sentir o mundo que agora rodopia à sua volta, com o vento, entrar-lhe pela alma adentro e ficar feliz por isso... quem sabe?!

Um abraço