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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Outono no Jardim Nublado - Parte I

Domingo, 4 de Abril de algum ano que se perdeu.

Não se sabe explicar exatamente o que aconteceu naquele dia, era uma tarde bela, Amélia e eu tomávamos o chá como de costume e tudo parecia correr bem. Por volta das 15:30h adentramos no jardim, um belo jardim rodeado por cercas vivas e decorado por variados tipos de rosas, dois bancos brancos de madeira fixados no piso de pedra e dispostos em torno do chafariz que era visivelmente disposto no centro do jardim, tudo organizado como que por um desenho num papel quadriculado onde se contam os espaços onde se encaixam cada objeto.

Sentamos no banco que dava de frente para a entrada do jardim e começamos a conversar como de costume, tudo parecia normal para olhos normais, mais meus olhos no quesito Amélia eram observadores e furtivos. Nada me escapava um suspiro, um sorriso, uma lágrima... Nada! E naquela tarde em especial ela parecia distante, secreta, eu enrolei por volta de meia hora até questionar o porquê daquela expressão fadigada. E quando finalmente questionei obtive como resposta uma Amélia desaguando em lágrimas, chorava e chorava e seu choro era acompanhado por soluços disparados que não podiam ser contidos.

– Amélia o que houve? Amélia? Pare de chorar Amélia, o que foi?

– Não sei se devo dizer, creio que não posso lhe contar, não vou conseguir.

– Ah Amélia, pelo menos tente, não sabe o quanto me dói ver você nesse estado. O que pode ser tão ruim?

– Hoje meu pai chamou-me para uma conversa em particular. Ele me disse que ainda no fim deste mês eu viajarei para a Europa onde ficarei por três anos no colégio de artes. Eu disse a ele que não quero, juro que disse mais ele quer que eu vá de qualquer jeito.

Pode-se ver em meu rosto uma expressão estranha que misturava tristeza, palidez e desilusão. Ao mesmo tempo em que eu calculava alternativas seguras de lhe dar com tal situação meu peito acelerava de uma forma incontrolável e aterrorizante, minha face se contraia dando forma aquela expressão mista e bagunçada e quando dei por mim, todo o horror e angustia haviam desaparecido, naquele instante só havia o jardim, os bancos, o chafariz, Amélia e eu que completava o quadro perfeito de um beijo não calculado. Reação? Se á esperasse de Amélia, ficaríamos ali para sempre. Ao me dar conta de que meus lábios tocavam os dela abri os olhos e notei os seus olhos estatelados de espanto, então corei.

Demos as costas um para o outro como quem comete um crime e se envergonha, porém esta ocasião só durou dois minutos que era tempo o suficiente para se recompor. Tomei fôlego e me virei, peito cheio de ar, dei de cara com a doce Amélia já a esperar por um beijo mais voraz do que um encostar de lábios. Era mágico, era espetacular!


Outono no Jardim Nublado - Parte I - Por Dustin Maia.

2 comentários:

Tatiane Trajano disse...

O tempo parecia nublado, mas o coração dos pombinhos parecia florir.

=***

Fabricia Moreira disse...

Que lindo texto. Grandes escritores , compositores "amaram amélias" :)